“A musa acorrentada”
O generalizado desinteresse poético
Que se observa no literário caos
Assenta no pendor estético
De versos bons e maus.
Ele há versos diversos de um pendor maléfico
Que vão proliferando por degraus
Construindo um devaneio ético
Típico de saraus.
Reforçar colarinhos
De tudo o que se diz poesia
Não abona por certo os pergaminhos
Que faz da conjuntura máscara d´ harmonia.
Compor os desalinhos
Talvez projecte a melhoria
Que se impõe para abrir outros caminhos
Que incentivem as Letras com sabedoria.
Há que abrir horizontes rumo à emoção
Que leve os poetas a reescrever
O que neles faz condição
Da poesia valer.
Reestruturando os timbres até à exaustão
Revela-se a energia e o dever
Com mais ao menos propensão
Da poesia crescer.
Soltem a cotovia,
Que ela não seja prisioneira,
A musa acorrentada cumpriria
Cantando dos poetas a sua vil cegueira.
Deixem-na ser magia,
Na rota plena e lisonjeira,
E ouvi, poetas, a pura fantasia
Que traz em leve canto poemas sem fronteira.
Veste-te, ó cotovia, de penas e palavras,
E ciranda nessa larga atmosfera
Anunciando em canções raras
A diva primavera.
E vós, versejadores, com ideias cavas,
Vós, poetas e poemas de quimera,
Deslizai do vulcão em lavas
De luz e nova Era!
Frassino Machado
In RODA-VIVA POESIA
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